quarta-feira, 7 de julho de 2010

A Dama-da-Vitória

Todos sentíamos o perigo se aproximando. O medo vinha em nossa direção e ele tinha forma física, força e poder. Era aterrorizador pensar que algo maligno iria arrasar séculos de história, de romances, de lutas. Era impossível entender como o inimigo era tão frio, tão insano. Era doloroso pensar que as pessoas que me criaram, as pessoas que cresceram comigo e as pessoas que eu amei poderiam não estar ao meu lado amanhã. Mas o mais difícil, era saber que não se podia fazer nada.
Olhei para a multidão... As pessoas todas reunidas, se abraçando, chorando, esperando a morte. Era horrível. A primeira catapulta foi acionada e um gigantesco meteoro destruiu uma casa a alguns metros de mim. As pessoas de dentro da casa morreram instantaneamente, mas o destino dos que estavam em volta foi pior. Pedaços de rocha incandescente as acertaram em cheio, causando desespero em meio a todos.
O pânico começou; gritos, choro, pessoas correndo. Ao longe, podia-se ouvir o barulho de flechas cortando a escuridão, espadas se cruzando. Por mais que houvesse defensores, o massacre aconteceria. Do lado de fora da fortaleza havia homens em proporção de 7/1, homens preparados. Homens que carregavam em suas bandeiras o símbolo de seu reino, um símbolo de tirania, de morte.
Desliguei-me de tudo isso. Pra mim, estava tudo acabado. Meus familiares foram mortos após o primeiro ataque.  Meus amigos estavam lutando na fortaleza e eu sabia muito bem que nenhum dos defensores seria deixado vivo. Minha casa, estava sendo destruida pela chuva de meteoros que caia na cidade.  Não havia nada que eu quisesse, que almejasse.
De repente, vi algo no chão que me surpreendeu. No chão, havia um lindo anel, todo de ouro "trançado" com uma pérola no topo. Aquele anel me transportou para um outro lugar, em um outro tempo.
Naquele tempo, não havia ataque. Não havia familiares mortos, nem amigos lutando. Havia apenas uma criança andando no cais após fugir de casa. A criança, com raiva, chutava as pedras que encontrava, até que cansado, se sentou no chão e desabou a chorar.
"Porque choras meu pequeno?" ouvi uma voz dizer. Não respondi, mas senti que a pessoa tinha se agachado e sentado ao meu lado. Resolvi responder, pra ver se ela me deixava em paz: "Não há sentido para nada. Não há sentido viver num lugar onde você não tem que lutar pela felicidade, onde fica tudo sempre na mesma". Achei que ela já fora embora e resolvi erguer a cabeça. Mas percebi que ao meu lado, uma mulher com uma capa de viajem, de pele clara e cabelos ruivos me fitava intensamente com dois belos olhos verdes. "Talvez você esteja reclamando por não estar feliz". Fiquei com raiva, é claro que eu estava feliz, era tão fácil ter alegria num lugar como Lo Porto Rojo. Ao dizer isso à ela ouvi em resposta: "Você diz que é fácil alcançar a felicidade. Mas será que é fácil transformar a felicidade e os dias de sua vida em algo intenso, algo inusitado?"
Comecei a ouvir a voz da minha mãe me chamando. Tentei continuar a conversa, mas quando voltei o olhar para a estranha moça, não a encontrei. Onde ela estava, havia um anel e um bilhete. Nele lia-se:
"Se todos partirem, se a noite na sua vida se tornar mais escura, se você achar que não tem mais sentido continuar, lembre-se: Aqueles que te amaram estarão sempre com você. Basta que você honre as memórias deles, não desista e reconstrua, de um jeito melhor, tudo aquilo que foi destruído."
Ela não me abandonara. A mulher que tantos anos antes me dera um incrível lição de vida estava ali, me ajudando novamente. Eu não sabia o que ela era, se era um anjo, uma deusa, uma amiga. Sabia apenas que não podia desistir de tudo.
Tomei uma decisão. Corri, corri, corri. Finalmente cheguei ao bosque. Dentro de um toco de madeira havia comida, roupas e uma mochila de viajem. A decisão era simples. Eu iria fugir, e iria reconstruir tudo. Eu voltaria a cidade, a reconstruiria. Eu dominaria o mundo e levaria paz a todos. Eu traria a felicidade que agora me tiravam. Eu iria fazer dos povos uma nação única, cheia de amor. Eu iria honrar aqueles que lutaram pra defender tudo que eu tinha enquanto eu me escondia. Eu iria lutar também, para honrar uma mulher que nunca me abandonara.

"Anos depois, Anjesnerim, a dama-da-vitória, era imperatriz do maior império que o mundo conheceria. Ela respeitou as religiões dos povos conquistados, ela deixara vivo todos aqueles que, nas mãos de outro dominador, teriam sido executados.. Ela fizera de tudo para facilitar a vida de todos. Após tudo isso, ela voltou a Porto Rojo, reconstruiu a cidade e fez dela a capital. Por mais que esse mundo não exista, a história da dama-da-vitória, é a história de parte minha vida. Por mais que eu não tenha dominado o mundo, quando estava tudo perdido, tomei uma decisão e resolvi lutar para ser uma pessoa melhor, para honrar as poucas pessoas que se preocupavam comigo. Hoje, tenho a minha felicidade, mas jamais irei parar de lutar. Espero que um dia, todos possam alcançar a felicidade que eu alcançei. E até que isso aconteça, jamais descansarei" - Eduüin.

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