sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Aos que virão depois de nós (Bertolt Brecht)

I

Eu vivo em tempos sombrios.

Uma linguagem sem malícia é sinal

de estupidez,

uma testa sem rugas é sinal de indiferença.

Aquele que ainda ri é porque ainda não

recebeu a terrível notícia.



Que tempos são esses, quando

falar sobre flores é quase um crime.

Pois, significa silenciar sobre tanta injustiça?

Aquele que cruza tranqüilamente a rua

já está então inacessível aos amigos

que se encontram necessitados?



É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.

Mas, acreditem: é por acaso. Nado do que eu faço

Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.

Por acaso estou sendo poupado.

(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)



Dizem-me: come e bebe!

Fica feliz por teres o que tens!

Mas como é que posso comer e beber,

se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?

se o copo de água que eu bebo, faz falta a

quem tem sede?

Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.



Eu queria ser um sábio.



Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:



Manter-se afastado dos problemas do mundo

e sem medo passar o tempo que se tem para

viver na terra;



Seguir seu caminho sem violência,

pagar o mal com o bem,

não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.



Sabedoria é isso!

Mas eu não consigo agir assim.

É verdade, eu vivo em tempos sombrios!



II

Eu vim para a cidade no tempo da desordem,

quando a fome reinava.

Eu vim para o convívio dos homens no tempo

da revolta

e me revoltei ao lado deles.



Assim se passou o tempo

que me foi dado viver sobre a terra.

Eu comi o meu pão no meio das batalhas,

deitei-me entre os assassinos para dormir,



Fiz amor sem muita atenção

e não tive paciência com a natureza.

Assim se passou o tempo

que me foi dado viver sobre a terra.



III

Vocês, que vão emergir das ondas

em que nós perecemos, pensem,

quando falarem das nossas fraquezas,

nos tempos sombrios

de que vocês tiveram a sorte de escapar.



Nós existíamos através da luta de classes,

mudando mais seguidamente de países que de

sapatos, desesperados!

quando só havia injustiça e não havia revolta.



Nós sabemos:

o ódio contra a baixeza

também endurece os rostos!

A cólera contra a injustiça

faz a voz ficar rouca!



Infelizmente, nós,

que queríamos preparar o caminho para a

amizade,

não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos.



Mas vocês, quando chegar o tempo

em que o homem seja amigo do homem,

pensem em nós

com um pouco de compreensão.

Vento de amor...

Blá, Blá, Blá e Blá.
Todas as palavras, as filosofias,
Nos palanques, na sua casa,
Enfim, em algum lugar, você vai se declarar
Vai se chamar de Poeta e se achar inspirado
E no final, como todo bom apaixonado, vai falar alguma besteira.
Porque vai descobrir que essa sua baboseira
E a sua busca por palavras temperadas com uma emoção redundante,
Te levam ao ponto: não se decreve o amor.
E agora, como expressará seus sentimentos se todas as suas palavras serão repetidas?
É simples, continue a falar.
Quem sabe um dia, quando o vento tocar os cabelos de alguém ela não sinta o calor de sua paixão?
Quem sabe ela não sinta a força das suas palavras?