segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Maria

        Não consegui entender o que estava acontecendo. Era doloroso, era insano, era impossível. Senti lentamente um formigamento transformar-se em dor, espalhar-se pelo meu coração. Senti também o sentido de viver murchar, como uma flor no inverno. E finalmente, sem sentimento algum, apenas um inexpressivo vazio, me vi cair de joelhos e deixei que o pranto me dominasse.
        Era terrível saber que eu nunca mais a veria, que eu nunca mais a teria perto de mim. Era terrível, amargo e inacreditável que eu tivesse causado a morte de minha amada. Que a minha ambição e a minha busca por vingança tivessem destruídos o meu maior bem, a minha maior companheira. O que antes era vida, beleza, felicidade, paz e a razão do meu sorriso, agora era um corpo morto, como uma marionete que tivessem cortado os fios.
        Tudo começara com meu incrível desejo de libertar o povo, de lutar pelos que eu amava. Eu tomara o poder, enfrentara gente rica, poderosa e me tornara, mesmo que fosse imperceptível, um tirano. Essa tirania, que antes de sua morte, Maria fizera questão de apontar, me corrompera e a levara pra um lugar de onde ela não poderia voltar. O que eu poderia fazer agora?
        A resposta veio como a água fria que me despertaria do pesadelo; eu precisava mudar. Precisava continuar com o sonho que me unira a Maria, precisava levar os ideais para frente. Depois, se houvesse algo após a morte, eu diria a ela que tudo pelo qual nós lutaramos dera certo e iríamos comemorar. Não seria esse baque que me impediria de conquistar todos os meus sonhos. A morte de Maria não seria em vão.
        Levantei-me com um semblante sinistro. Não era hora de parar. A luta fora iniciada e todos dependiam de mim. Avante, pensei. Avante, por Maria, minha amada!

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